Aluno de doutorado em Biodiversidade Vegetal e Meio Ambiente pelo Instituto de Botânica de São Paulo (IBt-SP), Allan C. Pscheidt está desenvolvendo seu estudo com foco na revisão sistemática do gênero Microstachys e da tribo Hippomaneae (Euphorbiaceae). Parte do seu doutorado foi realizada na Europa por meio do programa Ciência Sem Fronteiras e ele contou um pouco da sua experiência fora do país na entrevista a seguir.

Allan C. Pscheidt.
1. Recentemente você teve a oportunidade com o programa Ciência Sem Fronteiras para realizar parte do seu estudo fora do país. Para onde você foi e com quem trabalhou? Quais as principais atividades que foram desenvolvidas?
Em maio de 2013 fui para Munique para realização do Doutorado Sanduíche sob supervisão do Dr. Hans-Joachim Esser no Botanische Staatssammlung München, herbário M. O Dr. Esser é especialista na tribo Hippomaneae da família Euphorbiaceae, tendo vários trabalhos publicados na área de sistemática botânica. O conheci enquanto eu estava no mestrado e desde então conversamos e discutimos nossos trabalhos, até estabelecer a parceria e trabalharmos juntos. Em junho por duas semanas visitei o herbário P no Museum National d'Histoire Naturelle em Paris. O herbário participa do Reflora e encontrei diversos colegas por lá. E em julho fui até Londres no Kew Royal Botanic Gardens visitar o herbário K e British Museum visitar o herbário BM. Durante a estadia pude analisar a grande maioria dos espécimes-tipo dos herbários BM, K, M e P. Isto possibilitou a resolução dos problemas nomenclaturais e de delimitação das espécies que estudo. Além disso, o Dr. Esser solicitou empréstimo a outros grandes herbários do mundo, como de Nova Iorque, Genebra e Bolívia, proporcionando um estudo amplo dos espécimes em toda a sua abrangência geográfica.

Espécimes-tipo estudados no Herbário M (Munique).
2. Qual o impacto que a oportunidade teve para o desenvolvimento do seu estudo?
Acredito que sem esta oportunidade meu doutorado não teria qualidade e a segurança das minhas hipóteses não seria real. Pude estudar todos os materiais-tipo, coleções de grandes coletores da história botânica, materiais coletados recentemente, levantar dados antes desconhecidos acerca da distribuição e variação das espécies, além de reconhecer espécies novas que encontram-se em publicação.

Vista externa do prédio do Instituto de Botânica de Munique.
3. Quais os pontos positivos do período que passou fora do país?
Maior experiência profissional e reconhecimento. Semanalmente haviam seminários e debates a respeito dos trabalhos desenvolvidos e tive oportunidade de eu mesmo apresentar um seminário sobre as espécies brasileiras e observar que os estrangeiros se maravilharam com as belezas naturais dos locais onde já coletei aqui no país. A língua não foi problema em nenhum momento: todos os pesquisadores e estudantes, e grande parte dos cidadãos das cidades visitadas, foram gentis e atenciosos.

Espécime tipo de Microstachys chamaelea (esquerda) e espécime tipo de Microstachys daphnoides (direita).
4. Teve algum lado negativo dessa experiência?
Nenhum a considerar. Em todo momento tive auxílio das pessoas envolvidas como a Dra. Leonor Maia do INCT - Herbário Virtual, da minha orientadora, Dra. Inês Cordeiro, do Dr. Esser e pesquisadores de todos os herbários visitados.
5. Qual foi o impacto que a saída do Brasil teve para a consolidação de parcerias internacionais?
Participação em artigos, convites para expedições de coleta à África e Ásia. O sanduíche proporcionou imersão na comunidade científica, maior que aquela quando participamos de Congressos e Simpósios regionais ou nacionais.

Dra. Inês Cordeiro (orientadora), Allan C. Pscheidt e Dr. Hans-Joachim Esser (orientador do Dout. Sanduíche).
6. Qual a importância da disponibilidade livre e aberta dos dados na rede INCT-HVFF?
Hoje a internet possibilita acesso instantâneo à informação e muitos colegas estrangeiros elogiaram a organização e a facilidade como os dados são disponibilizados.
7. Que ferramentas e aplicativos disponíveis na rede INCT-HVFF foram importantes para o seu trabalho?
Consulta dos acervos dos herbários na rede speciesLink. Lá conseguimos todas as informações necessárias para o desenvolvimento do trabalho quando não precisávamos estudar os espécimes.

Posto de trabalho no herbário K (Londres).
8. O desenvolvimento do seu trabalho trouxe algum feedback aos herbários participantes da rede INCT-HVFF? Que tipo de feedback e quais herbários?
Ao herbário SP conseguimos duplicatas de espécies de outros países, enriquecendo a coleção. De forma geral o conhecimento adquirido possibilitou identificação de centenas de materiais de diversos herbários.
9. Algum modelo de distribuição geográfica com base no nicho ecológico da espécie foi gerado?
Ainda não. Estou finalizando a revisão do grupo que estudo e como algumas espécies ainda não estavam bem delimitadas a geração de um modelo de distribuição não seria interessante. Contudo, com minha contribuição ao Herbário Virtual e seus serviços, acredito que tais modelos estarão, no futuro, disponíveis no serviço de Biogeografia da Flora e Fungos do Brasil (http://biogeo.inct.florabrasil.net/). Tenho grande interesse em estudar a biogeografia do grupo em oportunidade futura, quem sabe um pós-doutorado, aproveitando a experiência e os dados levantados durante o doutorado regular e o doutorado sanduíche.

Vista interna da coleção do herbário K (Londres).
10. Você teve problemas com a falta de coordenadas geográficas dos espécimes? Os espécimes sem coordenadas eram coletas antigas ou recentes?
Sim e não. Faltam coordenadas para muitos materiais antigos que, por isso, infelizmente nunca estarão disponíveis e a ausência de novas coletas faz com que o endemismo de algumas espécies fique em dúvida ou pouco delimitado geograficamente. Desde modo faz-se necessário novas expedições de coleta a todo momento e é emocionante quando encontramos novas ocorrências de populações em outras áreas que não as localidades-tipo. Os espécimes sem coordenadas eram coletas antigas e recentes. Parte dos materiais recentes carecem de informações sendo necessário contato com os coletores para reconhecer o local de coleta e identifica-lo num mapa. Seria interessante que a nova geração de coletores (pós-graduandos e jovens pesquisadores) se atentassem à grande importância das coordenadas nas fichas das exsicatas. Isto contribui para muitas análises e enriquece os trabalhos, diminuindo o tempo necessário para o levantamento desses dados.

Posto de trabalho no herbário P (Paris).
11. Você tem alguma sugestão para melhoria das funcionalidades da rede INCT-Herbário Virtual da Flora e dos Fungos?
Talvez links para contato com os herbários a fim de corrigir informações, como nome de coletor, ou mesmo identificações de duplicatas.
12. Você incluiu ou incluirá imagens das plantas vivas e/ou exsicatas na rede?
O herbário SP do Instituto de Botânica possui parceria com o INCT-Herbário Virtual com as imagens dos tipos. Futuramente imagens das coleções que estudo e estão depositadas no herbário SP poderão ser incluídas na base de dados do serviço Exsiccatae de forma a enriquecer o banco de dados existente das coleções na rede speciesLink.
Saiba mais!
- Dr. Hans-Joachim Esser (http://www.botanischestaatssammlung.de/index.html?/staff/esser.html)
- Botanische Staatssammlung München (http://www.botanischestaatssammlung.de/index/general_index.html)
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