Ciência Sem Fronteiras: Entrevista com Bruno Amorim (UFPE)

Publicado em: 30/07/2014 (Última atualização: 18/03/2025)

Aluno de doutorado em Biologia Vegetal da Universidade Federal de Pernambuco, Bruno Amorim está desenvolvendo seu estudo com foco em filogenia e taxonomia do gênero Myrcia (Myrtaceae). Parte do seu doutorado foi realizada na Europa...


Ricardo Braga-Neto



Aluno de doutorado em Biologia Vegetal da Universidade Federal de Pernambuco, Bruno Amorim está desenvolvendo seu estudo com foco em filogenia e taxonomia do gênero Myrcia (Myrtaceae). Parte do seu doutorado foi realizada na Europa por meio do programa Ciência Sem Fronteiras e ele contou um pouco da sua experiência fora do país na entrevista a seguir.



Estudo da coleção do herbário do Museu de História Natural de Paris

Estudo da coleção do herbário do Museu de História Natural de Paris.

1. Recentemente você teve a oportunidade com o programa Ciência Sem Fronteiras para realizar parte do seu estudo fora do país. Para onde você foi e com quem trabalhou? Quais as principais atividades que foram desenvolvidas?
Prioritariamente eu fui para a cidade de Londres, na Inglaterra, estudar o acervo botânico do Jardim Botânico de Kew sob a supervisão da pesquisadora colaboradora do meu projeto, Dra. Eve Lucas. Além disso, eu estive nas cidades de Bruxelas, Copenhague, Genebra, Munique e Paris com a mesma finalidade, de estudar as coleções dos acervos botânicos.

Coleção do herbário do Museu de História Natural de Paris

Coleção do herbário do Museu de História Natural de Paris.

2. Qual o impacto que a oportunidade teve para o desenvolvimento do seu estudo?
O estudo das coletas botânicas históricas que foram realizadas no Brasil durante o século XIX foi de fundamental importância no reconhecimento das espécies em estudo, possibilitando assim até a descoberta uma espécie nova para a ciência.

3. Quais os pontos positivos do período que passou fora do país?
O fato de ter acesso aos materiais-tipo das espécies que estou estudando foi, sem dúvida, o maior deles e de fundamental importância para o reconhecimento das mesmas. Outro ponto positivo foi ter, em apenas uma coleção, acesso a material de diferentes partes do Brasil, o que me ajudou a aprender os padrões morfológicos das espécies e resultou no reconhecimento de uma espécie nova para a ciência que foi encontrada no acervo do herbário do Jardim Botânico de Kew. Esta espécie é endêmica da Chapada Diamantina na Bahia e algumas amostras dela foram coletadas entre 1994 e 2006. Originalmente estas amostras estão depositadas em acervos de herbários brasileiros, a exemplo do Herbário da Universidade Federal da Bahia (ALCB), do Herbário da Universidade de São Paulo (SPF) e do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (RB), mas como amostras destes materiais haviam sido enviadas ao Herbário de Kew, eu tive a oportunidade de conhecê-la em Londres.

Coleção do Museu de História Natural da Dinamarca

Coleção do Museu de História Natural da Dinamarca.

4. Qual foi o impacto que a saída do Brasil teve para a consolidação de parcerias internacionais?
A minha parceria com a Dra. Eve Lucas já estava estabelecida, mas acredito que a minha ida ao Jardim Botânico do Kew fez que essa parceria se consolidasse através de nossa convivência no ambiente de trabalho e constantes reuniões tratando de assuntos profissionais.

5. Qual a importância da disponibilidade livre e aberta dos dados na rede INCT-HVFF?
Em nosso trabalho de pesquisa estamos sempre precisando confirmar a escrita correta de algumas espécies, assim como de seus respectivos autores e locais de ocorrência. Com a política de disponibilidade de dados online, a vida do pesquisador se torna muito mais fácil, pois tem acesso a diferentes informações sem precisar ir aos locais em que as plantas estão depositadas.

xColeção do Jardim Botânico da,Bbélgica

Coleção do Jardim Botânico da Bélgica.

6. Que ferramentas e aplicativos disponíveis na rede INCT-HVFF foram importantes para o seu trabalho?
O speciesLink e o INCT-Herbário Virtual auxiliam na identificação de espécies por comparação (quando a imagem da amostra é disponibilizada), além da confirmação dos seus locais de ocorrência.

7. O desenvolvimento do seu trabalho trouxe algum feedback aos herbários participantes da rede INCT-HVFF? Que tipo de feedback e quais herbários?
Sim, muitas amostras foram identificadas e/ou atualizadas, além da localização de tipos botânicos em herbários onde ainda não se tinha conhecimento de que os mesmos estavam depositados. E muitas destas já se encontram disponíveis online.

Coleção do Jardim Botânico de Genebra

Coleção do Jardim Botânico de Genebra.

8. Algum modelo de distribuição geográfica com base no nicho ecológico da espécie foi gerado?
Não, ainda não foi gerada nenhuma informação a esse respeito do meu doutorado, mas devo estar trabalhando nestes dados nos próximos anos. E acredito que com a distribuição de algumas espécies que estão sendo estudadas por mim, eu possa em breve trabalhar com modelos de distribuição geográfica no sistema de Biogeografia da Flora e dos Fungos do Brasil (http://biogeo.inct.florabrasil.net/).

9. Você teve problemas com a falta de coordenadas geográficas dos espécimes? Os espécimes sem coordenadas eram coletas antigas ou recentes?
Sim, algumas coletas não são georreferenciadas e possuem apenas as coordenadas dos municípios, o que torna difícil a localização exata deste material, seja na precisão na distribuição dos táxons ou até mesmo para retornar ao local de coleta. A maior parte delas é antiga, mas muitas coletas recentes não possuem informação de georreferenciamento.

Coleção botânica do herbário de Munique

Coleção botânica do Herbário de Munique.

10. Você incluiu ou incluirá imagens das plantas vivas e/ou exsicatas na rede?
Não, mas pretendo fazer isso assim que tiver compilado as informações do meu doutorado.

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Saiba mais!
- Laboratório de Morfo-Taxonomia Vegetal (http://www.morfotaxonomia.com/)
- Dra. Eve J. Lucas (Kew) (http://www.kew.org/science-conservation/research-data/science-directory/people/lucas-eve-j)


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