Ciência Sem Fronteiras: Entrevista com Roger Melo (UFPE)

Publicado em: 23/06/2014 (Última atualização: 18/03/2025)

Aluno de doutorado em Biologia de Fungos da Universidade Federal de Pernambuco, Roger Melo está desenvolvendo seu estudo com foco em taxonomia e ecologia de fungos coprófilos. Parte do seu doutorado foi realizada na...


Ricardo Braga-Neto



Aluno de doutorado em Biologia de Fungos da Universidade Federal de Pernambuco, Roger Melo está desenvolvendo seu estudo com foco em taxonomia e ecologia de fungos coprófilos. Parte do seu doutorado foi realizada na Universidade de Illinois nos EUA por meio do programa Ciência Sem Fronteiras e ele contou um pouco da sua experiência fora do país na entrevista a seguir.


Equipe de micologistas do Robert A. Evers Laboratory, UIUC - da esquerda para a direita: Andrew Miller, Lee Crane (Professor Emérito), Yasmina Félix (doutoranda visitante da Espanha), Abe Matlak (estudante de graduação), Roger Melo (pesquisador visitante do Brasil), Vincent Hustad (doutorando), Huzefa Raja (professor visitante), Steve Zelski (doutorando), Jason Newton (estudante de graduação), Tiffany Bone (Digitalizadora), Daniel Raudabaugh (mestrando) e Davi Almeida (pesquisador visitante do Brasil).

1. Recentemente você teve a oportunidade com o programa Ciência Sem Fronteiras para realizar parte do seu estudo fora do país. Para onde você foi e com quem trabalhou?
Durante o período de seis meses, de agosto de 2013 a fevereiro de 2014, no final do terceiro ano de meu doutorado, trabalhei na Universidade de Illinois, Estados Unidos, sob a tutoria do professor Andrew N. Miller (http://www.life.illinois.edu/plantbio/People/Faculty/Miller.htm).

2. Quais as principais atividades que foram desenvolvidas?
Etapas fundamentais de meu trabalho, como a identificação/confirmação de 37 espécies de fungos coletados no Brasil, sendo alguns destes novos táxons para a ciência, e muitos novos registros para o país, e a descrição taxonômica completa de 97 espécies, cerca de 80% do total apresentado no trabalho. Juntamente com a descrição por escrito, cerca de 800 fotografias em alta definição foram obtidas, utilizando microscopia com contraste de fase e outros recursos adequados para obter melhores resultados com meu material de trabalho, permitindo a montagem de pranchas fotográficas e melhorando a qualidade das ilustrações obtidas através destas imagens. O acesso à bibliografia, através do programa "I-Share Libraries", permitiu a utilização e consulta de trabalhos indisponíveis em minha instituição de origem, contribuindo de modo inestimável com a qualidade e abrangência do trabalho.

3. Qual o impacto que a oportunidade teve para o desenvolvimento do seu estudo?
A oportunidade de trabalhar no exterior teve grande impacto no desenvolvimento do trabalho, sobretudo por acesso à bibliografia e melhor qualidade de microscopia, assim como o auxílio de um professor especialista para as dúvidas, que são frequentes e usuais em um trabalho de doutoramento.

4. Quais os pontos positivos do período que passou fora do país?
Dentre os pontos positivos, destaco a experiência de vida única, proporcionada pelo contato com pessoas não só dos Estados Unidos, mas de diferentes partes do mundo, contribuição de pesquisadores experientes e com pontos de vista distintos de nossa realidade, aprendizado de novas técnicas, aperfeiçoamento do idioma, dentre outros.

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Bancada de trabalho onde o aluno pode aproveitar a infraestrutura microscópica para incrementar os resultados do seu doutorado.

5. Teve algum lado negativo dessa experiência?
O alto custo de vida americano e a baixa valorização da nossa moeda em relação ao dólar americano tornou a experiência um pouco mais limitada, mas de modo algum limitou o avanço do trabalho.

6. Qual foi o impacto que a saída do Brasil teve para a consolidação de parcerias internacionais?
Sempre que há visita de alunos brasileiros à universidades estrangeiras criam-se pontes entre instituições. Pontes estas que podem ser o começo de grandes parcerias. O professor Miller, assim como outros da Universidade de Illinois (UIUC) já estiveram no Brasil duas vezes, uma em Brasília e uma na Bahia, e outros dois pós-graduandos brasileiros já estiveram em Illinois na mesma universidade, e minha visita pode ter aberto a oportunidade de uma futura visita ou até parceria entre a UIUC e a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

7. Qual a importância da disponibilidade livre e aberta dos dados na rede INCT-Herbário Virtual da Flora e dos Fungos (INCT-HVFF)?
Dados de espécies trabalhadas no Brasil ainda são escassos, e a maioria das referências que os taxonomistas brasileiros utilizam ainda são do exterior. Um banco de dados que provê estas informações é altamente importante para a micologia brasileira.

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Entrada do laboratório na Universidade de Illinois onde Roger desenvolveu parte do seu estudo.

8. Que ferramentas e aplicativos disponíveis na rede INCT-HVFF foram importantes para o seu trabalho?
A busca textual por exsicatas já depositadas foi de extrema importância para a elaboração da minha revisão taxonômica no Herbário URM.

9. Você procurou alguma ferramenta ou dado e não achou na rede INCT-HVFF?
Muitas buscas na rede INCT-Herbário Virtual da Flora e dos Fungos não retornaram resultados, mesmo quando havia certeza que as espécies/materiais em questão já haviam sido registrados no Brasil.

10. O desenvolvimento do seu trabalho trouxe algum feedback aos herbários participantes da rede INCT-HVFF? Que tipo de feedback e quais herbários?
Dois tipos principais de feedback foram (1) o significativo e substancial acréscimo ao acervo do Herbário URM (importante participante da rede INCT-Herbário Virtual da Flora e dos Fungos), com o acréscimo superior a 100 espécies não representadas até então e (2) a revisão de 116 exsicatas de ascomicetos coprófilos do Herbário URM, em vias de finalização.

11. Algum modelo de distribuição geográfica com base no nicho ecológico da espécie foi gerado?
Todas as espécies trabalhadas na tese terão seus dados de distribuição geográfica com base em seu nicho ecológico gerados.

12. Você teve problemas com a falta de coordenadas geográficas dos espécimes? Os espécimes sem coordenadas eram coletas antigas ou recentes?
A grande maioria das espécies com que trabalhei não estão disponíveis na base de dados, por se tratar de um trabalho pioneiro. Logo, não tive problemas com a falta de coordenadas geográficas.

13. Você tem alguma sugestão para melhoria das funcionalidades da rede INCT-HVFF?
Tornar o depósito de informações taxonômicas e imagens mais acessível, e uma maior divulgação por parte da equipe responsável, para que todos os pesquisadores depositem informações na base de dados, tornando os dados disponíveis.

14. Você incluiu ou incluirá imagens das plantas vivas e/ou exsicatas na rede?
Ainda não, mas dentro de alguns meses adicionarei, possivelmente de todas as espécies. Seria excelente se houvesse a possibilidade de depositar pranchas de imagens montadas, mas como há a necessidade de separar imagem por imagem, requer mais tempo.

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Saiba mais!
- Miller Mycology Lab (http://wwx.inhs.illinois.edu/research/pi/amiller)
- Universidade de Illinois (http://illinois.edu/)
- Ciência Sem Fronteiras (http://www.cienciasemfronteiras.gov.br/web/csf/)


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